Vagna Abbas

DESEJO,levar ao maior número de pessoas o conhecimento, dor,revolta e omissão do Gov.o Brasileiro e Libanês.O sequestro de meus filhos.Retirados ilegalmente do Brasil e levados ao Líbano, mantidos lá até hj. Há quase 10 anos nada sei sobre eles, onde moram? Anos de tortura mental,dor,gasto emocional. Se estudam...se estão vivos ...absolutamente nada...só me restou lágrimas , ângustias ,desilusões , medo , gasto...Não sei mais o que fazer...apenas confio em Deus.

30 novembro, 2008

Comunicação do Itamaraty- LIBANO


Ministério das Relações Exteriores em 30/06/2006 Senhora Vagna Aparecida Bandeira Abbas Diversos Brasil EMAIL=v.abbas@uol.com.br CARAT=Ostensivo PRIOR=Urgente DISTR=DAC DESCR=CASC CATEG=MO // Assistência Consular. Vagna Aparecida Bandeira Abbas. Audiência em Zahle. Viagem ao Líbano. // Nr. 02431 Prezada Senhora Vagna, Transcrevo, a seguir, teor de mensagem telegráfica enviada pelo Consulado-Geral do Brasil em Beirute: "No tocante à presença de Bilal e Hamze Abbas no Líbano, nem o advogado Camille Fenianos, nem a justiça libanesa conseguiriam trazê-los de volta, ou intimar Atef Abbas a fazê-lo, uma vez que se encontram sob sua guarda, moram em Dubai, protegidos pelos ritos muçulmanos e pelas leis deste país. Fenianos disse-me não ser possível solicitar e obter a garantia antecipada por escrito de Atef Abbas não impedir a partida de sua esposa do Líbano, após a audiência em Zahle - ainda são casados pelos ritos muçulmanos. A cerimônia, ocorrida em 23 de agosto de 1993, foi celebrada no Centro Islâmico em São Paulo pelo Xeique Ahmad El-Khatib, na presença de duas testemunhas. Embora o Consulado Geral do Líbano na capital paulista se recusasse, na ocasião, a proceder ao registro do casamento charita, só o fazendo após a cerimônia civil no cartório de Ibitinga, São Paulo, em 17 de outubro de 1996, ambos contratos foram registrados no Registro Civil das Pessoas do Bekaa Oeste, em Jib Jannin, neste país. A Sra. Vagna não pode dar entrada em pedido de divórcio. Cabe a Atef, como muçulmano, esse direito, bem como o de conviver com, até, quatro esposas. Já mantém uma segunda mulher em Dubai, quem cuida dos filhos de Vagna. Amparado pelas leis locais, pode se recusar a assinar a autorização para que sua, ainda, esposa Vagna deixe o Líbano. Fenianos não acredita que Atef proceda dessa forma, em razão de todos os transtornos por ela causados nos últimos anos, tendo sido responsável pela sua prisão em Bucareste, a pedido da Interpol, quando residia e trabalhava na Romênia, preferindo mantê-la longe. Insisti, ponderando a questão, mesmo que hipotética, mas perfeitamente plausível, de revanche pelo ocorrido no passado. Nada daria maior satisfação a Atef do que reter indefinidamente Vagna no Líbano, sem acesso aos menores, distantes em Dubai. Antevejo conflito de leis entre o Brasil e o Líbano. Pelas leis brasileiras, o nacional tem o direito de ir e vir sem qualquer restrição. A lei libanesa garante ao cônjuge masculino muçulmano autorizar ou não a saída de sua esposa do país." Atenciosamente, Rubem Guimarães Amaral Chefe, substituto, da Divisão de Assistência Consular

02 dezembro, 2006

Atef em Ibitinga em 19 de Maio de 1995.

Atef Said Abbas, esta foto foi tirada em Ibitinga no 19/05/95 , dia do nosso casamento no civil.

29 outubro, 2006

Quando Nos Conhecemos

Era um sábado de verão, dia 31 de janeiro de 1993...

Eu havia acabado de sair da igreja, com a minha amiga Eli. Nós duas estávamos descendo a rua principal da cidade de Ibitinga, quando fomos abordadas por dois homens em uma “picape” azul: eram o Atef e seu amigo, Fatus, que sempre estava junto com ele. Fatus era um amigo de sempre, também morador da minha cidade. Eles nos convidaram para tomar um refrigerante e acabamos marcando um encontro para mais tarde. Só que a minha amiga Eli me “deixou na mão” e acabei indo ao encontro deles levando a minha irmã, Vanessa. Mas ela não quis ficar muito tempo conosco. Na época, a Vanessa tinha apenas 13 anos de idade e, então, levei-a para casa e voltei. Aproveitei pra trocar de roupa e, quando voltei, estava com uma bermudinha de seda preta e uma blusinha do mesmo tecido com alcinhas de correntes douradas. Eu estava bronzeada, pois havia acabado de chegar de uma temporada na praia.

Atef era muito simpático, com um sorriso lindo, bem apessoado, magro, elegante, mais para alto... muito atraente. Ele ficou interessado em mim e reconheceu o perfume que eu usava: “poison”... Ficamos totalmente envolvidos. O seu amigo ficou meio como um “peixe-fora-d´água”, tanto que decidiu ir embora - desde que eu me comprometesse a depois levar o Atef para casa. Eu concordei na hora! Então, eu e o Atef fomos a uma danceteria que só toca música “country” e onde as pessoas se vestem a caráter, com roupas também nesse estilo. Conversamos sobre vários assuntos: trabalho, carros antigos, nossos relacionamentos... E também, é claro, dançamos... No momento em que dançávamos, pude sentir a sua respiração. Ele era um pouco desajeitado e tímido, principalmente quando estávamos a sós. Mas, naquele momento, na hora da dança, ele beijou a minha boca de um modo bem suave... Foi um beijo meigo e gostoso... E o seu abraço foi tão aconchegante que nem senti vontade de soltá-lo mais... rsrsrs. Ele tinha um cheirinho muito gostoso, demonstrava alegria ao falar e percebi que estava feliz... Mas ele precisava ir embora, pois já era tarde, quase madrugada...

Então, fui levá-lo para a fazenda onde ele morava. Achei muito engraçado, pois - quando chegamos lá - nos despedimos e eu fiquei vendo-o seguir para abrir a porta da sede da fazenda... De repente, ele voltou correndo!!! E me pediu pra ir lá abrir a porta para ele, pois havia uma lagartixa bem na porta e ele tem verdadeiro PAVOR de lagartixa!!! rsrsrs... (Aliás, hoje, um dos meus sonhos é enviar uma caixa “cheinha” de lagartixas pra ele como forma de vingança...). Voltei para casa rindo muito. COMO PODE O MEU "HERÓI" ter medo de uma inofensiva lagartixa??? rsrsrs... Mas ele tinha e, ainda por cima, teve coragem para confessar o seu medo para uma mulher, a sua nova paquera, que ele acabara de conhecer... Neste primeiro dia, achei-o medroso demais... rsrsrs.

Na despedida, ele me deu o número do seu telefone, mas (como tive que sair do carro para salvá-lo da lagartixa) acabei perdendo o papel onde havia anotado... E fiquei com vergonha de pedir novamente o número para o seu amigo Fatus...



introdução / continuação

São perguntas que me acompanham dia e noite, poucas respostas tenho, até mesmo dos fax que passo ao meu advogado no Libano. A ausência de respostas tornou-se uma constante em minha vida. Agradeço a Deus por ter me dado um espírito manso e ter me livrado de um derrame ou infarto.
Com este espírito, decidi ter a vida toda para buscar minhas respostas e resgastar os meus filhos. E quem sabe, com a ajuda de Deus, poder ajudar outras mães ou pais que tiveram a mesma desgraça, por terem amado a pessoa errada. A dor de estar sem os meus filhos aumenta por eu ter sido enganada, traída, roubada e fortemente agredida pelo homem que deveria ter protegido nossa família.
Não morri, portanto meus filhos não podem continuar órfãos. Tenho a esperança em meu coração - que aumenta a cada dia - de resgastá-los. Para isso, não me canso de ter idéias, arrumar estratégias, abordar autoridades políticas para clamar justiça a mim e aos meus filhos...
Tudo que sei sobre libaneses e muçulmanos é o que vi na família de meu ex-marido, como é de se prever no meu caso, que eu tenha uma impressão negativa e sentimental. Meu entendimento de justiça é que ela é a todos independente de raça ou religião. Meu ex-marido não é religioso, sempre dizia que religião mantém as pessoas pobres e ele queria ser rico. Sei também que na religião muçulmana é pecado tirar um bebê, que ainda esteja em fase de amamentação, da sua mamãe. Hamze mamava no peito... Meu ex-marido usa a religião por hipocrisia e conveniência. Que Deus o repreenda no momento certo. Apesar de desapontada com a justiça, entrei na faculdade de direito.

Eu , Bilal e Hamze

Esta foto foi tirada em Ibitinga em junho de 1997, semanas antes do sequestro. Hamze é o bebê lindo em meu colo, na ocasião com 9 meses, já estava ficando em pé sozinho e olhava pra todos batendo palminhas para nos estimular a aplaudi-lo. Bilal é o garoto bonito me abraçando, me orientando a abraçá-lo pra foto, na ocasião com 3 aninhos.
Eu estou sorrindo, feliz por estar ao lado dos meus filhos.

27 outubro, 2006

Orfãos da Injustiça

Introdução
26/02/99
Nosso país é conhecido mundialmente pelo carinho e amor com que recebemos todos os estrangeiros e, nesse sentido, fica muito difícil saber quem é realmente brasileiro e quem não é. Mesmo os índios, hoje em dia, não são totalmente índios, todos temos traços de algum povo, seja ele italiano, alemão, japonês, libanês... etc.

Por estes motivos, não estranhei quando conheci meu marido que, apesar de ter um nome diferente, Atef Said Abbas, não era muito distante do meu: Vagna, igualmente diferente.

Mal sabia eu o que o destino reservava, não apenas pra mim, como também para os meus dois filhos, Bilal e Hamze que me envolveram em uma incrível batalha que envolve a justiça de dois países, parentes, amigos, imprensa, tudo! E é uma luta, que luto até hoje.

Já relatei minha história diversas vezes a todos a quem pude encontrar e que de fato podiam ouvi-la: repórteres, juízes, advogados, amigos e até mesmo a curiosos, tudo na esperança de que pudessem, de alguma forma, ajudar. Porém desta vez é diferente, estou disposta a relatar a minha história com o desejo de que ela, talvez, suavize a dor que sinto... Quem sabe não traga luz a pessoas que poderiam passar por situações semelhantes? Quem sabe eu não poderia ajudar alguém escrevendo essa história de momentos bons e ruins? Se isso fôsse o bastante, já me sentiria feliz mas essa história é principalmente uma homenagem aos meus dois filhos perdidos: Bilal Atef Abbas e Hamze Atef Abbas. Saibam que ainda os amo e que tenho esperança de que, algum dia, leiam esses relatos.

Também quero protestar, gritar aos quatro ventos a forma omissa que o governo brasileiro e libanês trataram do caso, dos crimes cometidos, do rapto de crianças inocentes que perderam o maior tesouro que poderiam ter: sua mãe. Todos que têm uma mãe sabem como ela é importante em nossas vidas e sabem que não há nada que a substitua, então... podem avaliar o tamanho da perda.

Meus pequenos... Meus pequenos não têm capacidade de avaliar, não sabem o que houve, sorriem pra quem lhes tirou a mãe, vivem com essa pessoa sem saber do mal que ela fez, não apenas a elas como a mim! Com 10 meses mal se sabe o que aconteceu, com 3 anos temos apenas uma leve noção: sua inocência é que as faz ficarem longe de mim, mas sei que isso não há de durar para sempre... Uma hora eles IRÃO crescer e vão querer saber o que se faz de sua mãe!

E qual o sentido disso? Porque raptar duas crianças? Porque tirá-las tão cedo de sua mãe? Até onde um homem pode chegar pra prejudicar alguém? É tão absurdo que parece quase impensável, uma ficção, mas, no entanto, aconteceu! E ainda acontece nos dias de hoje.

Não consigo imaginar o que se passa na cabeça de um homem que faz isso. Por mais que tente, não consigo. O que o faz odiar tanto a figura materna? Como ele conseguiu traçar seus planos? Será que ele se escondeu? Saiu para pensar e voltou? Ou será que foi quando eu estava fazendo um bolo ou simplesmente passando roupas? Como ele conseguiu? Como se rapta duas crianças bem debaixo do nariz de sua mãe e ainda se sai de um país sem que as autoridades nada façam pra impedir? Entre os muitos absurdos deste nosso país, esse é um deles.

Me pego pensando: será que as autoridades libanesas ficam constrangidas com esse escândalo? Ou será que não? Será que esse crime é tão comum no Líbano que nem ligam mais? Será que já se acostumaram com isso?

Viajei duas vezes ao Líbano atrás de meus filhos e, acreditem, encontrei outras mães na mesma situação que a minha. Não pude deixar de ouví-las então, espero que escrevendo esta história, elas também possam ser ouvidas, assim como eu quero que me ouçam. Mas até quando vou esperar?

Essas perguntas me acompanham dia e noite durante quase dez anos de sofrimento do rapto, até os dias de hoje. As poucas respostas que consigo, passo para meu advogado no Líbano, imaginando que isso vá ajudar alguma coisa, porém, já me acostumei com o fato de que muitas perguntas permanecem e permanecerão sem resposta. Todos os dias agradeço a Deus por me dar um espírito manso e uma esplêndida saúde, sem os quais, certamente eu ficaria louca ou teria um infarto. E foi graças a esse espírito que prometi a mim mesma que teria a vida toda para resgatar meus filhos. Será que encontrarei minhas respostas? Só Deus sabe. Mas meus filhos? Com certeza encontrarei.

Tudo que sei sobre os libaneses é o que vi na família de meu marido, então, é de se esperar que eu cometa algumas injustiças, pois minha visão deles, minha interpretação do que ocorreu é baseada naquilo que vivi e senti. Fui traída, roubada e enganada justamente pelo homem que deveria proteger a mim e nossa família. Fica claro que vou vê-lo de forma negativa, não há como escapar disso.

Sempre tive a noção de que a justiça é igual para todos, independente de raça, nacionalidade ou credo. Meu marido não era religioso e, se era, nunca achei que fôsse. Ele dizia que religião era para os pobres e que seu desejo era justamente ficar rico. Pelo que sei, os muçulmanos consideram pecado tirar os filhos de uma mãe que ainda está amamentando, mas meu marido se usou da religião. Será que ele sente culpa? Medo? Remorso? Será que ele realmente está preocupado se Deus vá repreendê-lo ou não por isso? Não sei dizer. Só quero meus filhos, nada mais.

E depois de tudo que vivi e vi, decidi escrever minha história e de meus filhos.